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Espetáculos cênicos se consolidam na cultura escolar do Câmpus Votuporanga

Publicado: Quinta, 16 de Fevereiro de 2023, 11h54 | Última atualização em Sexta, 17 de Fevereiro de 2023, 19h49 | Acessos: 2953

Teatro contribuiu no processo de readaptação ao ensino presencial


 

Sentados no palco, da esquerda para a direita: professora Maria Elisa (em pé, logo acima dela, a professora Maria Cristina), Aliana Câmara e Eduardo Catanozi celebram a apresentação teatral do conto literário “Pai contra Mãe”, protagonizada pelo então 2º ano do curso Técnico em Mecatrônica [fotografia: arquivo de Arthur Badaró]


Em 2020 e 2021, a comunidade do Câmpus Votuporanga não pôde encerrar os semestres letivos com apresentações teatrais, o que acontecia desde 2017, quando os primeiros anos dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio encenaram obras do dramaturgo Gil Vicente (1465-1536).

Antes mesmo da pandemia do novo coronavírus e da implementação inevitável do ensino remoto, o professor Eduardo César Catanozi já destacava o papel do teatro: “Em um mundo em que as pessoas estão se relacionando cada vez mais apenas por redes sociais, faz-se necessário estimular o indivíduo a que reaprenda a interagir, presencialmente, com outras pessoas sem a mediação de máquinas ou dispositivos. Dessa forma, o teatro não possui apenas importância artística, mas também auxilia no processo comunicacional, já que estimula o domínio da expressividade corporal, vocal e verbal. Possibilita, também, vivenciar, de maneira empática, experiências diversas, aumentando a percepção sobre o outro e, consequentemente, sobre a própria identidade”.

Em março de 2022, estudantes e professores retornaram às atividades letivas presenciais, momento em que as turmas dos segundos (2021) e terceiros (2020) anos dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio puderam se conhecer e interagir pessoalmente, face a face. Contudo, sem a memória afetiva de um distante 2019, quando o teatro discente alcançou as obras Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, O Auto da Compadecida, de Ariana Suassuna, e O Bem Amado, de Dias Gomes, e estreou nos palcos do Festival Literário de Votuporanga, o Fliv.

 

6 de julho de 2022, a retomada

 

3º ano de Edificações encena “Lisbela e o Prisioneiro” no encerramento do primeiro semestre letivo de 2022 [fotografia: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


Os terceiros anos dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, justamente os jovens mais afetados pela pandemia, subiram ao palco do Anfiteatro do Câmpus Votuporanga apoiados pelas professoras e professores de línguas do Câmpus Votuporanga. Edificações, às 14h, apresentou a peça “Lisbela e o Prisioneiro”, baseada na obra teatral homônima de Osman Lins. Em seguida, às 15h30, Augusto dos Anjos e seus poemas inspiraram a peça “O Fim da Matéria”, encenada pelos estudantes de Mecatrônica.

 

3º ano de Mecatrônica encena “O Fim da Matéria” no encerramento do primeiro semestre letivo de 2022 [fotografia: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


Mostra de Teatro “Deco D’Antônio”. As peças dos terceiros anos integraram a programação da 11ª edição da mostra que homenageia o artista Emannuel Tadeu Camargo D’Antônio, e foram encenadas no palco do Centro de Convenções “Jornalista Nelson Camargo”, em Votuporanga. No dia 6 de setembro, por “Lisbela e o Prisioneiro” (Edificações) e “O Fim da Matéria” (Mecatrônica), os estudantes receberam os aplausos da plateia.

 

3º ano de Edificações encena “Lisbela e o Prisioneiro” na Mostra “Deco D’Antônio” [fotografia: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


 

3º de Mecatrônica encena “O Fim da Matéria” na Mostra “Deco D’Antônio” [fotografia: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


#FLIV2022. A 12ª edição do Fliv foi totalmente presencial e teve, em sua programação, no dia 15 de agosto, a encenação de “O Fim da Matéria", no Parque da Cultura. Havia servidores, estudantes de várias turmas, familiares e o público que circulava pelo festival. Em apresentação concorrida, os estudantes encantaram a plateia.

Arthur Badaró se formou em Técnico em Mecatrônica dia 21 de dezembro de 2022 e recorda da apresentação no Festival Literário de Votuporanga: “Quanto à imersão em público, foi essa… O palco pequeno e bem próximo das pessoas. No final, deu certo e foi mágico para toda a sala…  Quando acaba a peça e os papéis são jogados ao ar, a sensação é de que cada segundo valeu a pena”, analisa. O relato do agora egresso do Câmpus Votuporanga transformou-se em entrevista que encerra esta reportagem.

 

3º de Mecatrônica encena “O Fim da Matéria” no Fliv 2022 [fotografia: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


Nos palcos da… Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a SNCT 2022. O terceiro ano do curso Técnico em Informática estreou nos palcos na abertura da SNCT 2022, às 8h, do dia 15 de outubro, para encenar “O Auto da Compadecida”.

3º ano de Informática encena “O Auto da Compadecida na SNCT 2022” [montagem com fotografias dos estudantes]


O evento nacional também teve a estreia dos segundos anos no palco do Anfiteatro do Câmpus Votuporanga, integrando a I Semana do Livro e da Biblioteca, por sua vez vinculada à SNCT 2022. Edificações encenou “O Alienista”, célebre conto de Machado de Assis, no dia 20 de outubro. No dia seguinte, às 8h, Informática encenou “O Cortiço”, romance de autoria de Aluízio Azevedo. Mecatrônica, às 9h30, teatralizou o conto “Pai contra Mãe”, de Machado de Assis, peça cujo registro fotográfico é capa desta reportagem.

 

Estudantes do então 2º ano de Edificações encenam “O Alienista” [fotografia: arquivo pessoal dos estudantes]


 

Estudantes do então 2º ano de Informática encenam “O Cortiço” [fotografia: arquivo pessoal dos estudantes]


 

E ano letivo de 2022 encerrou-se com… Teatro!

Estudantes do então 1º ano de Mecatrônica encenam “O Auto da Barca do Inferno” [fotografia: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


No fim de um ano letivo de readaptação à convivência presencial, os protagonistas foram os estudantes dos primeiros anos. Em 30 de novembro, a turma de Informática encenou “A Invasão” e a de Edificações “O Bem Amado”, textos de autoria de Dias Gomes. Por fim, no dia 2 de dezembro, foi a vez dos calouros de Mecatrônica com o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente.

 

Estudantes do então 1º ano de Informática encenam "A Invasão" [fotografia: arquivo dos estudantes]


Aprendemos a ouvir o outro, a abrir mão de nossas verdades e aceitar a opinião do outro, a decidir coletivamente o que é melhor para todos. Aprendemos a aceitar os limites do outro e que não importa se não está perfeito se o que conseguimos é o melhor que podemos dar”, avalia a professora Aliana Lopes Câmara, que conduziu a leitura e encenação da obra “O Auto da Barca do Inferno” junto ao primeiro ano de Mecatrônica.

 

Estudantes do então 1º ano de Edificações após a encenação de “O Bem Amado” [fotografias: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


A estudante Heloísa Andrade da Silva Vendramini, ingressante em 2022 no Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio, foi a diretora da adaptação de “A Invasão” e aponta a criação de laços entre a turma e dela com outras. “Em questão de aprendizagem, tivemos que aprender a conviver em sociedade… o que um dia era um conflito em relação à organização, no outro se torna uma coisa resolvida”.

 

Centro de Línguas, o Celin

Esse organismo institucional visa à internacionalização do IFSP, é vinculado à Assessoria de Relações Internacionais (Arinter) e concretizou-se no Câmpus Votuporanga em 2020. Por conseguinte, os espetáculos de retomada cênica em 2022 foram impulsionados como ação do CeLin.

O teatro no Câmpus Votuporanga consolidou-se como uma das metodologias do ensino de Literatura e consta, na maioria das vezes, da adaptação de uma obra literária para o gênero dramático. Os estudantes desenvolvem várias habilidades, que vão desde a escrita - com a adaptação do texto, a escolha da trilha sonora, figurino e cenário e, também, a atuação no palco, desenvolvendo assim a linguagem corporal, o trabalho em equipe e o protagonismo juvenil.

“É uma ação coletiva e interdisciplinar, que une todos os setores e segmentos da nossa escola. E o professor Eduardo Catanozi nos contagiou com seu amor pelo teatro. Ajudou-nos muito além daquilo que era sua obrigação, dando cursos sobre teatro, acompanhando ensaios, idealizando as ações dos atores e o cenário”, conta a professora Aliana, evidenciando o caráter colaborativo do Centro de Línguas, que também apoiou a realização de um júri simulado na disciplina de química no Ensino Médio Integrado.

 

E para este ano de 2023?

“É por momentos como esses que a vida vale a pena. Valeu o tempo em que estivemos juntos. O teatro nos uniu e a afetividade e a amorosidade que a atividade despertou em nós não vai embora. Agora pertencemos uns aos outros, e é com essa responsabilidade coletiva que olhamos para 2023. Novos desafios nos aguardam”, reflete Aliana, que frisa a colaboração intensa de todo o corpo docente e de setores administrativos durante 2022. “É um projeto da escola”.

Segundo a professora, a tendência é que obras ainda não encenadas de 2017 a 2022 sejam lidas e teatralizadas, como é o caso de “A Revolução dos Bichos”, de autoria de George Orwell. Membro do NUGS, desde 2022, a docente também sinaliza que temáticas relacionadas à mulher serão desenvolvidas cenicamente em março, em alusão ao Dia Internacional da Mulher.

 

Professora Aliana Lopes Câmara e a estudante Isabela Conceição [fotografia: arquivo do IFSP]


A partir do dia 6 de fevereiro, quando iniciou o ano letivo de 2023, os novos estudantes dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio tiveram uma semana de atividades de recepção e ambientação para conhecer esta escola. O teatro, que já faz parte de sua cultura organizacional, é uma das possibilidades de desenvolvimento de habilidades e competências. Pensando nisso, o IFSP Votuporanga apresenta, a seguir, uma entrevista com Arthur Badaró, egresso que foi atuante nos espetáculos cênicos durante o último ano.

 

Entrevista com o egresso Arthur Badaró

Arthur Badaró se formou em Técnico em Mecatrônica, já conquistou 2 vagas em Engenharia Biomédica em faculdades particulares e aguarda o Sisu 2023 [fotografia: arquivo pessoal de Arthur Badaró]


“Essa pergunta é difícil, pois cada uma teve algo muito único”, responde Arthur Badaró quando perguntado sobre qual apresentação foi sua preferida naqueles três meses intensos em que conciliou os estudos e os preparativos para o 06/07/2022 nos palcos do IFSP, o 15/08/2022 no Fliv 2022 e o 06/09/2022 na 11ª Mostra "Deco D’Antônio".

Nesta entrevista, concedida a partir de perguntas enviadas pelo IFSP no dia 3 de fevereiro de 2023, o egresso do curso Técnico em Mecatrônica se manifesta já estando aprovado em Engenharia Biomédica na PUC-Campinas e na Inatel. No dia 5 de fevereiro, um domingo, depois de ter respondido às primeiras perguntas por mensagem de áudio no WhatsApp, Arthur Badaró foi internado em hospital e descobriu que havia tido um segundo Acidente Vascular Cerebral (AVC), do qual agora se recupera em casa. As perguntas restantes foram respondidas nesta semana. Com a divulgação do resultado do Enem 2022, o egresso concorrerá a uma vaga de Engenharia Biomédica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

 

IFSP - Arthur, o teatro ajudou, em algum sentido, a superar os efeitos do isolamento social durante os 2 anos primeiros anos de estudos remotos aqui no IFSP Votuporanga?

Arthur Badaró - Ah, auxiliou bastante. O que eu visualizo nesse sentido é que o teatro nos ajudou a conhecer os colegas de classe. Muitas vezes, só se conhecia alguém quando a pessoa abria o microfone ou a câmara durante a aula, e isso acontecia em poucas situações. E eu ouvi dizer e vi que pessoas com dificuldade de se expressar conseguiram superar seus limites.

 

IFSP - Arthur, conte-nos um fato de bastidores de processo cênico que você considere importante que o público saiba.

Arthur Badaró - Todo mundo de Mecatrônica deve agradecer ao pessoal de Edificações, pois rolou uma ajuda muito legal, que começou no câmpus e também rolou na Mostra Deco D’Antônio. As rivalidades… A princípio, estávamos com uma rixa entre Edificações e Mecatrônica. Durante os ensaios de Lisbela e o Prisioneiro (Edificações) e o Fim da Matéria (Mecatrônica) houve alfinetadas, mas no último ensaio dessas peças rolou algo muito bacana… O pessoal de Edificações passou a nos auxiliar, e precisávamos de apoio, e pegaram essa responsabilidade de nos ajudar. Foi espontâneo, partiu totalmente deles. E não só eu, acho que todo mundo de Meca gostaria de agradecer os colegas de Edi. Eu gostaria de agradecer de coração. Na primeira apresentação (no Anfiteatro do câmpus), teve ajuda. Depois na Deco (Centro de Convenções) também, em todas as apresentações. A rivalidade que nos foi passada por veteranos eu espero que não seja forte nos próximos anos, que as turmas saibam se respeitar acima de tudo, e que as pessoas possam contar consigo e entre si!

 

"Eu gostaria que esse fogo continuasse aceso porque eu vejo que é uma coisa muito própria do Instituto Federal, as artes cênicas, e eu gostaria que fosse nosso diferencial, da nossa instituição. Essa chama do teatro". Arthur Badaró.

 

IFSP - Como você vivenciou a relação entre a formação técnica no Ensino Médio na área de ciências exatas e o percurso cênico?

Arthur Badaró - É uma questão difícil de responder, de Humanas nas Exatas. Foi algo muito bom, até para desestressar. Não vejo problema algum em você fazer Exatas e caminhar um pouco para as Humanas. É muito bom para tranquilizar a mente, pois o teatro é catártico, algo de um poder incrível. Por exemplo, na Engenharia fazemos muito cálculo, planejamos muita coisa e sempre há alterações no meio do processo ou algo dá problema. Acho que a gente consegue extrair essa lição do Teatro: a gente pensa, a gente arquiteta, a gente ensaia, mas nem sempre tudo vai sair do jeito que queríamos, pois há acidentes de percursos, imprevistos, e isso também está associado à área de Exatas. Estamos sujeitos a erros, que pode ser um erro de cálculo (nas Exatas). Somos humanos e erramos, mas é o fato de sermos humanos que nos conecta às Artes Cênicas e às Exatas.

 

IFSP - O que você considera que levará do Teatro para a Engenharia Biomédica?

Arthur Badaró - Acho que o trabalho em equipe. No teatro nós não escolhemos o nosso grupo, como também é no mercado de trabalho. Tem também o acaso, o imprevisto. Lembro de uma fala do Catanozi: “se vocês errarem o texto, improvisem”. O improvisar e o repassar várias vezes um plano de estudos. Você tem um roteiro e vai batê-lo inúmeras vezes até começar a ensaiar, e então vai batê-lo mais vezes ainda, até diminuir a chance de erro.

 

IFSP - Por fim, o que você tem a dizer aos novos estudantes de Ensino Médio sobre o engajamento com o teatro na escola?

Arthur Badaró - É para eles pularem de cabeça, de olho fechado. Olha, eu não sei como esta mensagem vai chegar até eles, não sei como eles vão “ler”, como vai chegar no coração deles, não se como eles vão absorver tudo isso, mas seria um imenso, um imensurável prazer se eles fizessem isto: fechar os olhos e pular de cabeça no teatro. Porque foi a melhor experiência, as minhas melhores experiências no Ensino Médio. Eu sei que não é fácil fazer uma peça de teatro, mas tivemos uma relação de amigos com o professor, o que facilitou muito. Se eu puder deixar uma dicas para eles, é que tenham uma excelente relação com o professor ou professora que estiver aplicando artes cênicas. É uma coisa de outro mundo, que te concede uma liberdade, de sugerir, de dar opinião. E que tenham confiança em si mesmos. É difícil demais, mas subir no palco, olhar para frente e ver centenas de pessoas… com quem você almoça todos os dias, com quem você forma fila para o café da manhã, ou então na saída do IF, a que senta do teu lado no ônibus… O teatro se resume a isto: se você tem todo um passo-a-passo na sua cabeça e você comete um erro, você pode superá-lo sem que isso afete muito a peça. Então, não é por um erro que a peça acaba e você é culpado. Longe disso. Se alguém cometer algum erro durante um ensaio, é onde tem que cometer erros mesmo, onde as coisas têm que acontecer. Pensem nisso. Se você derrubar alguma coisa no ensaio, você não vai derrubar na peça. E se você derrubar algo em uma peça, você não vai derrubar em outra. Que perguntem aos colegas e professores sobre opiniões, que batam o texto em grupo. E principalmente, leiam os livros!  E assistam ao filme, consumam conteúdo daquilo, porque vai se tornar natural. É perceptível isso. Eu gostaria que esse fogo continuasse aceso porque eu vejo que é uma coisa muito própria do IF, as artes cênicas, e eu gostaria que fosse nosso diferencial, da nossa instituição. Essa chama do teatro. 

 

IFSP - Arthur, desejamos a você muita saúde e uma ótima recuperação.

Arthur Badaró - Foi um prazo e uma alegria enorme responder a cada pergunta. Revivi cada um daqueles momentos de uma maneira totalmente diferente.

 

 

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Assunto(s): Teatro , Ensino Médio , 2022 ,
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