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Professor de história organiza publicação sobre os 150 anos da Guerra do Paraguai

Publicado: Quinta, 09 de Julho de 2020, 13h46 | Última atualização em Quinta, 09 de Julho de 2020, 13h50 | Acessos: 1613

Doutor em História Militar, o professor Leandro Gonçalves destaca que o tema é recorrente no Enem e vestibulares


Leandro Gonçalves na biblioteca do Câmpus Votuporanga (2019)


A convite da Marinha de Guerra do Brasil, o professor de história Leandro José Clemente Gonçalves organizou a última edição da Revista Navigator, de periodicidade semestral, tendo como tema os 150 anos da Guerra do Paraguai. Com 9 textos, a publicação lançada pela Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) é um dossiê que trata de temas que tradicionalmente não eram abordados pela história militar, como mentalidades, celebrações, diplomacia e relações internacionais, gênero, imprensa, patrimonialismo e tecnologia.

 

Professor nos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, Leandro Gonçalves avalia que o interesse dos estudantes pela História da América Latina é grande. "Todavia, os alunos refletem o desconhecimento comum na sociedade brasileira, especialmente na imprensa. É como se o nosso modelo educacional virasse as costas para a América Latina, é como se não fôssemos latino-americanos", argumenta.

 

Ao IFSP, o docente concedeu entrevista e dá dicas aos estudantes inscritos no Enem e vestibulares:

 

Conflito matou cerca de 100.000 militares e dizimou pelo menos 250.000 civis [foto: reprodução]


 

IFSP - O que um candidato inscrito no Enem e em vestibulares tradicionais precisa saber sobre a Guerra do Paraguai?

 

Leandro - As causas e os efeitos da guerra. Ou seja, os elementos que levaram ao conflito, o porquê do conflito ter a configuração que teve, com inimigos tradicionais como o império do Brasil e a república da Argentina lutando do mesmo lado (a Tríplice Aliança, que ainda incluía a república do Uruguai). A política interna uruguaia (caracterizada pela luta entre os partidos blanco e colorado) da época, que serviu como catalisador das rivalidades entre Brasil e Paraguai. E, por fim, as razões que teriam levado o Paraguai a optar pela solução militar para resolver seus problemas territoriais com o império.

 

IFSP - Passados 150 anos da Guerra do Paraguai, qual a perspectiva da América Latina do ponto de vista da integração e colaboração para o desenvolvimento da região?

 

Leandro - As perspectivas não eram promissoras até 2018, com várias idas e vindas nas políticas de integração em blocos como o Mercosul e alianças militares como a Unasul. Infelizmente, diga-se de passagem, porque outros continentes buscam a integração enquanto o Brasil parece buscar o isolamento. De 2018 para cá este isolamento se acentuou ainda mais e teremos sérias dificuldades em sanar, no futuro, os problemas diplomáticos daí decorrentes.

 

IFSP - Em abril, você conduziu duas atividades online (lives) sobre a presença de militares no atual governo. Consideradas Atividades Complementares em tempos de pandemia, como você avalia a importância dessas ações para a manutenção do vínculo afetivo-pedagógico do estudante para com o IFSP?

 

Leandro - Há uma recorrente ideia em voga de que educação à distância se traduz em vídeo aula, estritamente conteudista, o que é um erro crasso e primário. Ações como aquela ajudam a manter nos alunos um sentido de pertencimento e ligação à instituição de ensino. Vi muitos alunos, nas redes sociais, orgulhosos de seus(suas) professores(as), indicando tais ações aos amigos que não estudam ou conhecem o IFSP, algo de muito positivo para a imagem de nossa Instituição de Ensino. Pessoas que nem sequer sabem o que é nossa instituição, tomaram conhecimento da mesma e se interessaram. Senti que há tanto ou mais interesse e atenção dos estudantes por aqueles eventos quanto havia pela aula presencial.

 

IFSP - Você é líder de um grupo de estudos institucional sobre História da Ciência e Tecnologia. De que forma a História Militar se materializa na História da Ciência e Tecnologia?

 

Leandro - São temas inseparáveis, dado que a guerra, como atividade humana, recorre à tecnologia desde a pré-História. Tome-se o exemplo de um humano que ao pegar uma pedra na mão para ferir ou matar outro ser humano já está fazendo uso de uma técnica, ainda que seja para matar. Ciência, tecnologia e guerra andam de mãos dadas, pois não houve conflito armado na história da humanidade em que não se fez uso das duas primeiras para conduzir a terceira. Podemos observar o emprego da tecnologia em todas as guerras. Na Guerra contra o Paraguai temos a presença de armamentos produzidos em escala industrial (mosquetes raiados, revólveres, carabinas de repetição, artilharia raiada), produtos industriais (uniformes, medicamentos, equipamentos diversos), balões de observação, navios a vapor e com blindagem, minas navais, telégrafos, novos conhecimentos sobre o tratamento de doenças.

 

 Mapa do terrítório paraguaio [imagem: BBC Brasil]

 

 

 

 

 

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