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Aluna do 1º período do Integrado em Informática vence concurso de redação

Publicado: Terça, 17 de Outubro de 2017, 17h04 | Última atualização em Terça, 17 de Outubro de 2017, 17h04 | Acessos: 1247

Pelo segundo ano consecutivo, o câmpus Votuporanga recebe a premiação máxima

A estudante do 1º período do Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio Rubia Carla Alves da Silva venceu o Concurso de Redação do NEABI – Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas na categoria Crônica ou Conto/Aluno.

Esta é a segunda vez consecutiva que o prêmio máximo do concurso é conquistado pelo Câmpus Votuporanga, que, no ano passado, foi primeiro lugar na categoria Poesia.

Nesta edição, o concurso literário do NEABI teve como tema “As contribuições históricas de mulheres negras e indígenas”. A atividade tem como objetivo promover e estimular a leitura, a produção e a difusão de textos literários produzidos por estudantes e servidores do IFSP autodeclarados negros ou indígenas, de modo a ampliar, de forma afirmativa, a visibilidade de seus discursos no espaço social e no meio literário.

O texto da aluna, intitulado “Eu sou Babi, a negra”, foi produzido durante as aulas de redação do Prof. Dr. Eduardo Catanozi. De acordo com o docente, todos os alunos produziram uma crônica ou um conto com a temática do concurso, mas como Rubia se autodeclarou negra, o texto dela foi enviado para análise da comissão julgadora. Ainda conforme o professor, nas aulas de Língua Portuguesa do Instituto Federal, os alunos são devidamente estimulados e preparados para produzir textos, uma das competências e habilidades da disciplina. “Rubia, assim como inúmeros outros alunos da sala e do câmpus, é bastante dedicada e gosta muito de ler e escrever. Assim que dei a notícia a ela de que havia vencido o concurso, a primeira coisa que disse foi: ‘E eu ganharei livros?’, já que sabia que esta é premiação, além do certificado. Essa frase da aluna reflete bem o seu pendor para a leitura”, contou o professor.

Para Rubia, ter vencido o concurso foi uma surpresa. “Nunca tinha participado de nada dessa natureza. Gosto muito de escrever. Já iniciei alguns livros, os quais mostro apenas para os amigos mais íntimos. Sinto-me bastante estimulada aqui no Instituto Federal para fazer redações”, afirmou. Sobre o tema do concurso e da redação, declarou: “Pessoalmente, nunca senti muito preconceito até porque nunca dei espaço para isso. Quando criei Babi, a personagem do meu texto que sofre preconceito, depositei nela tudo o que eu não queria para mim. Mas também a inventei forte para poder lutar pelos seus direitos como cidadã”.

A mãe de Rubia, Regina Rodrigues Alves, afirmou que ficou muito surpresa e feliz quando soube do prêmio. “A Rubia sempre gostou muito de escrever. Ela me disse que haveria um concurso de redação, mas eu não sabia que ela tinha mandado o texto. Nossa! Ter vencido em primeiro lugar do estado é um orgulho para a família!”. Quando perguntamos a D. Regina sobre o tema do concurso e a opinião dela sobre o negro na sociedade contemporânea, ela foi bastante assertiva: “Sempre disse para Rubia: se tudo é difícil nesta vida, para os negros sempre vai ser 3 vezes mais. Por isso, é preciso batalhar muito para conquistar o seu espaço, minha filha!”.

A coordenadora do Curso Técnico Integrado em Informática, Profa. Ma. Cristiane Paschoali de Oliveira Vidovix afirmou, sobre a notícia do prêmio, que é motivo de orgulho para toda a comunidade acadêmica do câmpus. “É uma satisfação vermos nossos alunos explorando seus talentos e sendo reconhecidos. A Rubia é uma aluna extremamente competente e esforçada: merece todas as glórias e tem muitos caminhos a percorrer. Estaremos em todos os momentos com ela e com todos os outros, dando apoio e incentivo”, declarou.

A cerimônia de premiação do concurso acontecerá durante a 1ª Jornada do IFSP, que será realizada em Cubatão-SP, de 6 a 9 de novembro.

O texto vencedor do concurso        

Leia, abaixo, o texto de Rubia que venceu o concurso:

Eu sou Babi, a negra

Eu sou Babi, filha de pais pardos e neta de uma bugra. Carrego na pele e nos traços a miscigenação do povo brasileiro. Na alma, o orgulho de ser quem eu sou, nem maior, nem menor, simplesmente Babi. Babi parda. Babi bugra. Babi mulher.

No meu som, Elza Soares. Nos meus dramas, Ruth de Souza. No meu samba, PinahAyoub. Nas minhas lutas, uma Zezé Mota Xica da Silva guerreira. No meu panteão pessoal, sou todas elas: uma constelação inteira que brilha negra no sem-fim do universo, imagem refletida no meu próprio espelho. Um espelho de superfície negra!

Nasci Babi, em uma cidadezinha qualquer encravada no interior do país. Talvez seja descendente de uma negra forra, ou quiçá minha bisavó tenha parido em um vergonhoso tronco entre uma chibatada e outra. O que importa é que sou sobrevivente de uma história maculada pelo sangue do meu povo. O que importa é que tenho nas mãos o futuro: o meu futuro, maravilhosamente negro! 

Na minha terra natal, de gente simples e de pés rachados, mãos e sobrancelhas grossas, não importava meu tom de pele, a textura do meu cabelo, as curvas volumosas do meu corpo, minha sexualidade ou religião. Lá, Nossa Senhora da Conceição ou Oxum não faziam distinção de vela ou de penitente. Lá, eu era Baby, bebê e depois menina.

Não havia sofrimento: vida de quilombo festeiro.

Mas a história da alva Eva, coberta apenas por uma parca e seca folha de parreira, mais uma vez ganha narração e meus pais decidem se mudar.

Segundo eles, ir para uma cidade maior significaria ter mais opções de estudo, já que agora eu, Babi, adolescente mulher e negra, neta de uma bugra, iria para o ensino médio e precisava ter um ensino de qualidade. O fruto vermelho e sedutor do conhecimento!

E realmente o fruto era doce: meus conhecimentos ganharam proporções hiperbólicas. Contudo, o preço do castigo luciferiano veio na forma de vozes que insistiam em me dirigir ofensas por justamente ser Babi, negra bugra e mulher.

Diante do coro, às vezes explícito, às vezes velado, só havia duas opções: sucumbir ou resistir. E não confundam resistência com existência: existir, naquela cidade hipócrita e discriminatória, significava viver na escuridão, pedindo licenças ou desculpas por ser Babi, parda e de cabelo volumoso.

Por sorte, minha avó e Dandara já haviam sussurrado em meus ouvidos alertas e discursos inflamados que faziam calar as vozes do coro.

Com as roupas e as armas de São Jorge Ogum, bolei formas de criar provas contra qualquer um que tentava diminuir Babi mulher guerreira Iansã.

Não por vaidade ou capricho, sob a proteção de Nossa Senhora Maria da Penha, reuni provas bastantes contra as serpentes e as entreguei às autoridades, as quais se encarregaram do resto. As vozes do coro se calaram e, com o tempo, emudeceram. Algumas tiveram de se dedicar a “trabalhos voluntários”.

Saibam, nunca me arrependi de ter lutado, assim como nunca me envergonhei da mulher Babi que seguiu os exemplos de tantas negras brasileiras que traçaram a sua história: Anastácia, Clementina de Jesus, Leci Brandrão, Elisa Lucinda, Benedita da Silva, Taís Araújo, minha mãe, minha avó!

Saravá, Salve Rainhas!

Hoje, continuo sendo apenas Babi, a preta velha!

NEABI 1

NEABI 2

NEABI 3

NEABI 4

NEABI 5

 

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