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Tese em Arte aborda o bioma Cerrado na perspectiva de paisagens poéticas audiovisuais

Publicado: Sexta, 13 de Novembro de 2020, 17h14 | Última atualização em Sexta, 13 de Novembro de 2020, 17h23 | Acessos: 1813

Trabalho foi defendido e aprovado perante o Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB)


 

Cerrado no município de Ituiutaba-MG [foto: arquivo do professor Anésio Azevedo]


O professor Anésio Azevedo Costa Neto, que leciona Filosofia no Câmpus Votuporanga, defendeu, no dia 27 de outubro, a tese de doutorado intitulada “Projeto: Cerrado | Instaurando Ambientes Expandidos”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB) na linha de pesquisa Poética Contemporâneas.

 

O trabalho é resultado de quatro anos de dedicação, sendo 2 deles em regime de afastamento para dedicação exclusiva aos estudos de Doutorado em Arte, o que permitiu ao docente e artista participar de Doutorado Sanduíche no Canadá, na Universidade de McGill, em Montreal, província de Quebec, de agosto de 2019 a maio de 2020.

 

A tese do professor Anésio Neto traz à tona a complexidade do bioma Cerrado através de sons e imagens em performances audiovisuais e instalações artísticas que buscam não apenas uma repetição ou representação da complexidade natural, “mas constituir, a partir dessa complexidade primária, a estrutura necessária para os processos inerentes à poética artística em investigação”, elucida o jovem doutor que teve bolsa do Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior (PDSE) da Capes.

 

Professor Anésio Neto no laboratório Input Devices and Music Interaction Laboratory (IDMIL), afiliado à área de Música e Tecnologia na "Schulich School of Music" (McGill University, Canadá)

[foto: arquivo do professor Anésio Azevedo]


 

Participaram da banca de defesa Nivalda Assunção (UnB/IdA), orientadora e presidente da banca, Vicente Martinez (UnB/IdA), Hugo Fortes (USP) e Marcelo M. Wanderley (McGill University). A transmissão da defesa pública aconteceu no YouTube:


 

Natural de Ituiutaba-MG, na região do Triângulo Mineiro, o professor Anésio Neto concedeu entrevista ao IFSP e falou biomas, queimadas e suas perspectivas de trabalho para a tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, o que inclui o um grupo de pesquisa em estruturação no Câmpus Votuporanga.

 

 

Ambiente expandido: p [ambiente não-natural instaurado pelas materialidades (abstrações/excertos do sítio) manejadas conforme a necessidade criativa] é P (o espaço dos ambientes naturais/genéricos, o Cerrado per se) apresentado pela expressividade da performance audiovisual e instalações artísticas [print: slides de apresentação da tese]


 

Com apoio da Coordenação de Pesquisa e Inovação (CPI), o docente estrutura o Grupo de Estudos e Pesquisa em Ambientes Imersivos, que será conhecido com GEPAI. Confira entrevista:

 

IFSP - Como é defender uma tese de doutorado que se debruça sobre visualidades e sonoridades do Cerrado num ano em que biomas brasileiros são castigados pela seca e por queimadas?

 

Anésio - Vejo meu trabalho delineado por dois momentos distintos, mas complementares: o primeiro, lá nos idos de 2016, quando iniciei minhas pesquisas no Programa de Pós-graduação em Artes Visuais na UnB, circunscrito em uma áurea de retorno ao Cerrado enquanto paisagem saudosista: o ambiente de caminhadas com amigos, que também o admiravam; e em um segundo momento, de investigação e análise desse vasto domínio morfoclimático que acabou por me fornecer conhecimentos amplos acerca de sua importância para a manutenção das bacias hidrográficas do centro-oeste e sudeste do país, bem como de nos voltarmos para a compreensão de sua dinâmica. Neste sentido, ressalto que minha pesquisa acabou sendo a síntese (dialética) desses dois momentos. Aquela dinâmica subjacente ao que nos é permitido conhecer dos domínios ou sistemas biogeográficos brasileiros [do qual o Cerrado é uma parte integrante] está em nós e torna possível a vida humana. Nos desgrudar da responsabilidade de sermos respeitosos com nossa casa (nosso meio ambiente) está nos custando caro! Hoje, mais do que nunca, percebo o quão necessário é assumirmos uma postura enfática quanto à defesa de políticas sócio-ecológicas que tenham por base a manutenção da biodiversidade no país. Todavia, acho isso ainda muito pouco! Precisamos nos re-integrar à Natureza – condição essa da qual nunca prescindimos, mas que foi reivindicada pelas religiões ocidentais, filosofias modernas e pelo Capital. Neste sentido, entendo minha pesquisa em arte como uma forma de propor experiências estéticas e lúdicas acerca de nossa relação com a Natureza.

 

No Canadá, o professor e fotógrafo Anésio Azevedo também registrou paisagens de inverno [foto: arquivo do professor Anésio Azevedo]


 

IFSP - Na condição de jovem doutor (33 anos), quais são os projetos de pesquisa que você pretende apresentar perante os órgãos de fomento? O que nossos estudantes podem esperar de oportunidades?

 

Anésio - Primeiramente, alguns professores do Campus Votuporanga e eu estamos no processo de oficialização de um grupo de estudos e pesquisa em Ambientes Expandidos e Imersividade. A ideia do grupo é uma forma de integrar diversas áreas do saber para refletirmos e propormos práticas poéticas e lúdicas de ampliação da imersividade no contexto da arquitetura, artes visuais e tecnologias informacionais. Posteriormente – e isso já vem ocorrendo desde meados de abril deste ano – visamos parcerias com laboratórios de Bioacústica e núcleos de pesquisa em tecnologia audiovisual para ampliar a rede de trabalho que permitirá alcançarmos aquele objetivo. Uma ideia que nos orienta é efetivarmos os princípios da transdisciplinaridade no Campus, princípios esses que se assentam sobre a filosofia da Complexidade, de modo a propormos aos estudantes a reflexão de que todas as disciplinas, de uma forma ou de outra, estão interconectadas e que a realidade nada é senão uma conjunção dialética de nossa crenças, que, a todo momento, está em mudança.

 

IFSP - No campo da Extensão, quais são planos para o futuro?

 

Anésio - A extensão está em nossa mira, sim. Há alguns meses, visualizei a possibilidade de propor, via Extensão, um projeto que estabelecesse um diálogo entre filosofia, geografia e biologia a partir do conceito de paisagem. Envolver a comunidade externa ao campus, a fim de compreender seus modos de percepção das paisagens de Votuporanga, é algo que me fascina. Além disso, pretendo fornecer um minicurso de gravação e processamento de áudio, conhecimento esse que desenvolvi durante meu período em que estive afastado. Portanto, acredito que, ao menos por agora, seriam esses os planos para a Extensão.

 

IFSP - Como você avalia a oportunidade de estudos de pós-graduação com afastamento integral remunerado no IFSP?

 

Anésio - De janeiro de 2017 até agosto de 2018, minha pesquisa esteve parada. Não havia conseguido desenvolver muito dela e fiquei entristecido. A vida no campus demanda bastante do professor/pesquisador. Quando, finalmente, consegui o afastamento em agosto de 2018 fiquei aliviado! Essa é uma oportunidade que o IFSP lhe permite e fortalece a possibilidade de desenvolver uma pesquisa de qualidade. Como um direito assegurado a mim, lutarei para que seja um direito assegurado à todes da comunidade IFSP.

 

Professor Anésio Azevedo em ação [foto: arquivo do professor Anésio Azevedo]


 

IFSP - Já é possível projetar os impactos da conclusão do doutorado nas atividades de ensino da disciplina de Filosofia?

 

Anésio - Não sei… Sendo bastante honesto. Primeiramente, tenho que retornar e compreender o que mudou no sistema como um todo: diários, notas, reuniões. Reaprender tudo isso será um grande desafio. Depois, pretendo colocar em prática algumas ideias que desenvolvi para as ementas da disciplina ao longo desse período, tais como falar mais acerca da questão indígena, apresentando a filosofia do Ailton Krenak, indagar acerca de diferentes cosmogonias, como a Yorubá, discutir os direitos civis pela perspectiva dos movimentos sociais etc. No entanto, penso, sim que o Doutorado em Artes Visuais me ajudará sobremaneira no modo como propor ações para reavaliar os modos de percepção da realidade. Disso, quem sabe, poderão ser desdobradas diversas ações educacionais em congruência à outres pesquisadores e docentes. Isso seria ótimo, pois parto da crença de que tudo no mundo seria mais fácil se fôssemos mais empáticos e contribuíssemos, colaborativamente, para a construção de uma realidade mais humana e inclusiva. No entanto, infelizmente, essa não é uma lei geral.

 

"Os registros realizados, tais como áudio e vídeo das ações, bem como do local em si, despertaram-me maior interesse do que a concretização de grandes transformações na estrutura da paisagem. Nesta imagem, uma fotografia feita como estudo visual se tornou o símbolo para essa transformação no modo de encarar a paisagem e abstrair dela elementos a compor meus objetos artísticos, que passaram a se fundar sobre a remodelagem de gravações sonoro-visuais a fim de propor experiências acerca das paisagens do Cerrado", afirma o professor Anésio Azevedo. [foto: arquivo do professor Anésio Azevedo]


 

Grupo de Estudos e Pesquisa em Ambientes Imersivos, GEPAI. Leia a descrição propositiva:

 

“O presente grupo de pesquisa, em estruturação, possui como objetivo desenvolver poéticas artísticas a partir do uso de tecnologias imersivas. Utilizamos como base para a proposta criativa, dados eco-geográficos e materiais (sons e vídeos) provenientes de determinadas paisagens a fim de criar ambiências audiovisuais e, assim, aproximar os seres humanos para com a complexidade observada na Natureza. De inicio, utilizamos dados e materiais provenientes do Cerrado. uma vez determinado o objeto de trabalho, o grupo tem partido de discussões inter e transdisciplinares com a finalidade de desenvolvermos um método de abordagem mais adequado à proposta transversal investigativa, a qual entrelaça as Ciências Humanas, Artes, Arquitetura, Informática e Ciências da Informação. Perfil da parceria desejada: Procuramos por pesquisadores da Geografia e Biologia que trabalhem com os termos: "paisagem"; "paisagem sonora"; "ecoacústica"; "Bioacústica"; "Ecodinâmica", "análise da paisagem". Da mesma forma, procuramos por pesquisadores em Informática que estejam interessados em desenvolver estratégias tecnológicas para aprimoramento da experiência imersiva aplicada à instalações artísticas e performances audiovisuais”.


 

Pesquisadores e artistas interessados devem enviar mensagem de email para o professor Anésio Neto: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

Link para os trabalhos audiovisuais:

 

Bandcamp: https://stellatum.bandcamp.com/

Vimeo: https://vimeo.com/stellatum

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Assunto(s): Filosofia , Arte , Cerrado ,
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